quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Presente de Ano Novo – crônica de um país esgoto...

Moro em um bairro central do Recife, onde a proximidade com bancos, farmácias, padaria e supermercado, além de outras necessidades da vida moderna, me leva – e muito aprecio – a buscar realizar o máximo destas atividades a pé, o que, além de muito mais saudável – exceto pelo calor excessivo deste verão, mas para tanto existem, felizmente, protetor solar, bonés e um bom banho ao retornar ao lar – se torna bem mais rápido, por incrível que pareça, pois não preciso ficar retido no transito caótico de uma grande cidade e nem sair à cata de um lugar para estacionar o veículo.

Na manhã de hoje, como iria ao ponto extremo do bairro, peguei carona com a esposa que se deslocaria de carro para o seu trabalho – do outro lado da cidade – e iniciei o périplo pelo bairro que tanto aprecio a pé, pois posso perceber os gestos, os personagens, os acontecimentos, as vitrines etc. Enfim, tudo aquilo que pode servir de matéria-prima para um escritor.

Depois de cumprir duas ou três das tarefas que havia programado realizar antes de estar de volta e sentar-me frente ao computador para as habituais orientações para os alunos da graduação em engenharia da UFPE, avistei um casal de idosos que saíam de uma operadora de planos de saúde existente nas imediações. A senhorinha, que aparentava uma idade de uns 75 anos ou mais, ladeada pelo fiel esposo e sua bengala para apoio na deambulação – ele, sem dúvida, já ultrapassara os 80 anos – enxugava lágrimas contidas...

Não me contive, me aproximei e – nessa minha imensa mania de me preocupar um tanto com os outros – e perguntei se poderia ajuda-los em algo. Com um jeitinho terno, meio sorridente ou, melhor, surpresa – pelo inesperado contato, de um transeunte qualquer, creio eu –, meio entristecida, disse-me que, infelizmente, não. Ela percebeu meu interesse desinteressado e acabou por desabafar...

Depois de muitos e muitos anos pagando o mesmo plano de saúde para si e seu esposo, recebera alguns dias passados a comunicação para o reajuste do boleto mensal. Face ao desequilíbrio entre os sucessivos aumentos do plano de saúde e de suas aposentadorias, terminaram por não mais conseguir mantê-lo em dia. Por outro lado, em razão da elevada idade do casal, não conseguiram nenhuma outra proposta compatível com o orçamento familiar... Previsível, não mesmo?!

Convidei-os a virem comigo até uma padaria próxima onde lhes paguei um café com leite para ele e um suco de frutas para ela. Embora não tenha podido fazer muita coisa por eles, pelo menos, ao final de nosso breve encontro, ela abriu um sorriso um tanto mais esperançoso.

E só agora é que me dei conta de que sequer perguntei-lhes quais seus nomes. Digamos que são Maria e José, como tantos outros brasileiros na mesma faixa etária. E que acabaram de receber um presente de ano novo, nenhum pouco adequado ao que lhes resta de futuro, ao que lhes resta de vida. Um país esgoto que me faz lembrar dos seguintes versos: “Acostuma-te à lama que te espera. O homem que nesta terra miserável vive entre feras, sente inevitável a necessidade de também ser fera...”.

Ah, mas nem tudo esta perdido... Como sou otimista inato, somente poderia concluir este texto com um fio de esperança.

Ao chegar ao lar, me deparo com a remarcação da faixa de travessia para pedestres, quase defronte à secular igreja do colégio que ladeia o prédio em que resido, do outro lado da rua. Legal a tentativa de (re)ordenar o espaço urbano e as utilidades para o cidadão. Contudo, de um lado a faixa termina entre um poste, com uma lixeira e uma frondosa árvore que toma mais da metade da faixa e, do outro, com um profundo desnível entre a linha d’água e a calçada, que não é adequadamente rebaixada para cadeirantes, idosos ou carinhos de bebê, que regularmente acorrem ao templo religioso.

Entrei no site da Prefeitura da Cidade do Recife, acessei o e-mail da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e lhes enviei fotos e narrativa dos equívocos da execução da aludida faixa de pedestres. Em poucos minutos, recebi resposta da assessoria de imprensa do referido órgão. Disseram-me que as minhas colocações haviam sido encaminhadas ao setor técnico  para a avaliação pertinente. Vejamos quanto tempo levarão para concretizar a modificações necessárias (e de modo correto). Como disse, talvez ainda reste uma esperança...





Ah, antes que me esqueça... Passei bons 10 dias sem receber ou poder realizar ligações de meu telefone fixo. Ou seja, entre o período de Natal e Ano Novo, no qual mal utilizamos o telefone. Verdade? Nesse período, foram realizados nada menos do que 05 (cinco) protocolos de solicitação de conserto da linha. E sempre havia a sugestiva sugestão de que fosse verificada a condição da rede interna do prédio e do apartamento. Na ultima tentativa de reaver a utilidade da linha, atendente de telemarketing, sempre em voz monocórdica, repetia: “Entendo, senhor... mas ainda está no prazo para a execução do serviço solicitado e que...”. Não sabia eu (deveria saber né!) que a cada vez que você (re)solicita a execução de um serviço não prestado há dias, um novo prazo se abre em favor do devedor. Ou seja, em prejuízo daquele que paga as exorbitantes contas de telefonia em dia e sequer pode dispor dos serviços. Encerrei a ligação (feita desde o meu celular) com a atendente dizendo que sairia de imediato para a sede da regional da Anatel. Por coincidência, em cerca de 30 minutos, o telefone já esta funcionando e eu receberia uma ligação de um técnico da operadora. “Senhor, identificamos o problema... era um cabo danificado, fizemos a migração de seu “par” para este novo tronco. Não haverá mais problemas com a sua linha. Grato pela atenção”. Daí, não tardou para que eu recebesse uma ligação eletrônica da empresa para avaliar o funcionamento de minha linha: “Tecle 1 se a linha está funcionando normalmente, tecle 2 se ainda há problemas na linha”. Como o telefone aparentava estar funcionando, teclei 1. A ligação foi imediatamente encerrada e sequer me disseram um “Oi”. Será que realmente poderemos ter esperanças?

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Atender bem ao consumidor, não é favor!


Este texto foi escrito em março de 2013.

Minha esposa e eu estamos felizes da vida. Vem chegando a nossa segunda filha. E, nessa alegria, esquecemos de uma coisinha básica: a péssima qualidade dos prestadores de serviço que temos à nossa disposição. E não se trata de questão de escolha equivocada nossa, não. Posso afirmar que, infelizmente, em nosso país, a regra não é que tenhamos fornecedores de excelência, mas empreendimentos amadores de todas as ordens, travestidos de (bons) prestadores de serviço. E isso se aplica aos mais distintos ramos da economia.

Dia desses fomos ao Centro Cultural da Caixa Econômica, bem no Recife Antigo. Fomos assistir ao belo espetáculo d’Os tapetes contadores de histórias. Um maravilhoso espetáculo para crianças de todas as idades. E totalmente gratuito. Mas, um pouco antes disso, como estávamos esperando a hora marcada (tínhamos cerca de uma hora livre), saímos pelos arredores e decidimos parar num belo restaurante das imediações para tomarmos um suco e fazermos um pequeno lanche. Minha esposa, grávida, nossa pequena de menos de 3 anos e eu. Parecíamos invisíveis no restaurante (também bar), onde todos pareciam dispostos apenas a atender quem desejasse consumir bebidas quentes ou servir-se do buffet já pra lá de mexido por àquelas horas. Pela experiência vivida, asseguro que não voltaremos ao local e tampouco recomendaremos aos amigos e familiares.

Bom, mas deixemos pra lá. Acho que eles esperam fazer boa fama com os turistas estrangeiros que ansiosamente aguardam para a Copa das Confederações e do Mundo. Acho que pensam que estes vão gostar tanto do Recife que vão fixar residência por aqui e garantir o sustento deles, a continuidade dos negócios.

Não que o Recife não tenha muitos encantos. Claro que tem, mas faltam bons prestadores de serviço em todos os segmentos da economia, ah isso falta! Sem dúvida alguma.

Bom, como disse que chegará uma nova herdeira, minha esposa e eu decidimos fazer um guarda-roupa planejado para as duas pequenas. Resolvemos substituir o pequeno roupeiro para apenas uma criança, que tive o prazer de retirar na loja e eu mesmo montar em casa. Continua perfeito, desmontado e remontado, lá no quarto de serviço de nossa casa.

Acontece que o móvel planejado, esperado há 60 dias, foi entregue incompleto. E, surpresa: a avaria na peça estrutural foi detectada pelo fornecedor local, a qual foi retirada do conjunto de peças entregues em minha residência. Sabiam, de antemão, que não seria possível concluir a montagem do produto. Mas, mesmo assim, o restante das peças foi enviado ao nosso apartamento. Desmontamos o antigo e o montador da loja iniciou o serviço...

Soubemos desse trelelê todo somente ao ligar para o SAC da loja (que não funciona, pois não te dá retorno e se dá, é para comunicar a decisão deles, sem qualquer consulta prévia aos clientes, principais interessados, nós!). O quarto das bebês ficou bagunçado, nosso quarto invadido pelas coisas das crianças, gavetas por montar e o restante das peças por nossa sala. Faz uma semana! E não adianta se queixar ou informar que há uma criança a caminho, que pode chegar a qualquer hora, ainda mais com a mamãe dela tendo contratempos como este...

Solução sugerida: montariam com uma peça provisória e solicitariam da fábrica a reposição da peça faltante (no prazo da fábrica! – desta vez, com urgência: cerca de 45 dias). Aí, entregam ontem. O montador vem hoje cedo e - pasmem! – a peça não servia! Nos enviaram uma base, quando a peça necessária era uma lateral. Sequer as medidas equivaliam, pois a enviada era bem menor de que a necessária.

Bom, gostaríamos, minha esposa e eu, que, pelo menos, uma parcela dos recursos gastos pela loja com propagandas regulares na televisão fosse destinada ao treinamento de seus funcionários, em especial do SAC (que dizem ser Serviço de Assistência ao Consumidor), pelo menos para eles saberem que é o consumidor que realmente paga pelos salários de todos eles.

Triste pais este em que os fornecedores de serviços pensam que são prestadores de favor e em que o consumidor é apenas um a mais insatisfeito com pouco direito a reclamação e qualquer reparação. Vai ver estão esperando que nos saiamos às ruas para cobrar o s bem mais que 20 centavos que pagamos pelo contratado e que ainda não sabemos se e quando será entregue.

Bom, só a há coisa a afirmar: é caso de polícia!

domingo, 28 de julho de 2013

Em nome da ostentação da celebração, dane-se o sossego alheio

Moro em uma bucólica rua, quase alameda em toda a sua extensão, em um dos bairros do considerado "Recife Antigo". Um lugar super tranquilo para se morar. Nos finais de semana, ouvimos os passarinhos, por vezes cigarras e outros sons tão distantes da maioria dos moradores das grandes cidades. O prédio em que resido, habitado em sua maioria por casais jovens e idosos, fica bem defronte a uma tradicional escola católica, com sua igreja secular, poucos anos atrás elevada à categoria de basílica menor. Tamanha a imponência da edificação, celebrações de casamentos no local são disputadíssimas. Além do mais, há um enorme estacionamento à disposição dos convidados. Acontece que, de vez em quando, certos momentos do evento, como quando da entrada da noiva ou do encerramento da cerimônia, são marcados com estrondosos e quase infinitos estampidos de fogos de artifício (lá por volta das 22h ou mais). Convém destacar que, próximo de onde resido, nos dois lados, há edifícios residenciais com o mesmo perfil de moradores.

E parece que a moda de anunciar à sociedade o mais novo casal da cidade se tornou uma competição de luzes, cores e muito incômodo auditivo, sem a prévia anuência e concordância de toda a vizinhança (que pouco importa ter o sossego lesado). No meu bloco, há algumas senhoras grávidas, inclusive a minha esposa (a poucos dias de dar a luz à nossa segunda filha). No mesmo andar, temos como vizinhos de porta um casal de idosos, que já acorremos diante do ocorrido, pois o senhor (beirando os 80 anos) fora acordado aos sustos com o "bombardeio" adentrando-lhe o quarto em que dormia tranquilamente. Dia desses tivemos que ligar à secretaria de igreja para pedir a imediata suspensão do foguetório, que já havia ocorrido por duas vezes na mesma noite: durante a entrada da noiva e, pela duração da celebração, no momento do "sim". Pelo menos conseguimos, sob ameaça de chamarmos a polícia, evitar que tal se repetisse ao encerramento da cerimônia.

Dias atrás, tudo se repetiu. O nosso vizinho de andar, mais uma vez atordoado, ainda de pijamas, se dirigiu ao responsável pelo evento e pediu-lhe, encarecidamente, que não desse continuidade aos estampidos. Parece que, junto àqueles fartamente remunerados pela vaidade alheia, o pedido não surtirá efeito. Restou-nos encaminhar à Cúria Metropolitana apelo por proibição do foguetório e responsabilização da mesma por eventuais danos a toda a coletividade dos três prédios. E isso tudo diametralmente oposto ao que, por estes dias, conclama o Papa Francisco em visita ao nosso país para a JMJ.

O momento de fé passou a ser um momento de glamour e demonstração de ostentação, em todos os sentidos. Infelizmente, inclusive para o sossego de nosso sono e descanso, assim como para todos os moradores da vizinhança da referida igreja. Será que será preciso processar a Cúria para garantir o nosso direito ao repouso?

10% opcionais pelos (bons) serviços prestados

No tocante à famosa gorjeta pelos serviços prestados que, em geral, incide em 10% do consumo realizado em bares, restaurantes e similares, me vêm à mente, pelo menos, três situações bastante distintas entre si, as quais narro a seguir. Entretanto, convém esclarecer que, em hipótese alguma, o consumidor está obrigado a pagá-la, pois não se pode imputar a este a cobrança além do que foi consumido. Em outras palavras, a imposição ou obrigatoriedade do pagamento de qualquer taxa é abusiva, isto é, ilegal, nos termos da legislação brasileira (Vide o Código de Defesa do Consumidor, art. 6o, III). Ou seja, é estritamente opcional, se o consumidor espontaneamente desejar fazê-lo por entender que foi muito bem servido!

Seguem os fatos:

1) Não faz muito tempo, estivemos, minha esposa e eu, em companhia de nossa filha, almoçando em um bom restaurante de Porto de Galinhas (balneário turístico nas cercanias do Recife). A comida estava ótima, o que era de se esperar, em razão da fama do local e do ambiente requintado. Quando do pagamento, o garçom se dirigiu a mim e me solicitou, se concordasse em fazê-lo, que a gorjeta (os famosos 10%) fosse-lhe paga diretamente em espécie, pois era hábito do proprietário recolhê-la e não repassar aos trabalhadores pelos serviços prestados;

2) Outro dia, 6a feira à tarde, já avançando para o fim de tarde, marcamos, minha esposa e eu, de almoçar em um restaurante da zona norte da cidade que, por servir comida chinesa à la carte e ser sempre bem frequentado, certamente ainda estaria aberto para almoço naquele horário. Chegamos, entramos e escolhemos uma mesa ao fundo, pois havia poucos clientes no ambiente. Minha esposa sentou-se e, no momento em que o garçom ia dirigir-lhe cardápio - ao que ela lhe estendeu a mão para recebê-lo -, eis que chega um grupo de umas oito pessoas, pelo que o moço recolheu o cardápio ainda não completamente recebido, para mandar um outro atendente buscar um outro cardápio para nos servir. O que posso dizer é que, de imediato, nos retiramos do local para nunca mais voltarmos ali;

3) Dia desses, estávamos, minha esposa, eu e nossa filha, em um restaurante que serve bons pratos à base de frutos do mar. Chegamos cedo, como de costume, pois como a nossa criança é pequena, não queremos contratempos ou atrasos para a refeição. Fizemos o pedido. A entrega foi demorando, demorando... Outras famílias, que chegaram depois de nós, foram servidas primeiro. Ouvi o pedido de um cliente ao garçom solicitando-lhe um jeitinho para a família dele ser atendida "preferencialmente". E isto aconteceu. Ele, "gentilmente", alterou a ordem dos pedidos e o nosso foi ficando por final da fila. Chamei-o e pedi explicações em face da demora. Ainda demorou um pouco, mas o pedido sai. Ou melhor, veio arremessado à mesa. Sem sequer olhar para a mesa, o garçom soltou o prato sobre a nossa mesa, não nos serviu e partiu para atender outras mesas. E, no ato da cobrança, não me perguntou se aceitava os 10% e foi logo tascando a taxa no total da comanda quando fui digitar a senha do cartão na maquineta. Cancelei a operação e disse-lhe que iria pagar apenas o consumido, sem gorjetas. Aí o cara partiu para a discussão, argumentando que era necessário pagá-la, pois era devida, me xingou de muquirana etc. O maitre da casa observou tudo, à distância, e nada fez em relação ao que ocorria. Me enchi, não ia entrar em maior conflito com o indivíduo. Paguei em espécie, deixando sobrar poucos centavos ou reais a mais e, apesar de adorar frutos do mar, faz um bom tempo que não voltamos por lá. Em tempo: neste mesmo local havia um excelente garçom que nos atendia com muita cortesia e atenção, o que, á época, nos cativou e nos fazia retornar ao local, tanto quanto o sabor da refeição servida.

O condomínio é laico!

Cerca de dois anos passados, me surpreendi ao adentrar o edifício em que resido por me deparar com um presépio natalino instalado no jardim da entrada do prédio. Me dirigi ao então síndico e questionei acerca do gasto não autorizado nas reuniões ordinárias do prédio e que, além disso, havia moradores acatólicos no condomínio. Ele me respondeu que se tivesse que pedir autorização para as mínimas despesas do edifício não teria como administrá-lo e, pior, que a grande maioria dos moradores era católica. Não deu outra: na reunião seguinte, a grande maioria aprovou a decisão dele, que alegava a beleza das luzes e do simbolismo da época do ano. Poucos dias depois, soube que uma família de origem judaica se mudara do prédio...

Sendo cristão, não poderia me furtar a defender o direito alheio, independente do credo professado por cada uma das partes. Afinal, o condomínio é laico, assim como o Estado e o recurso empregado, oriundo do pagamento ordinário da taxa condominial... que tantos parecem esquecer que existe.