Moro em um bairro central do Recife, onde a proximidade com
bancos, farmácias, padaria e supermercado, além de outras necessidades da vida
moderna, me leva – e muito aprecio – a buscar realizar o máximo destas
atividades a pé, o que, além de muito mais saudável – exceto pelo calor
excessivo deste verão, mas para tanto existem, felizmente, protetor solar,
bonés e um bom banho ao retornar ao lar – se torna bem mais rápido, por
incrível que pareça, pois não preciso ficar retido no transito caótico de uma
grande cidade e nem sair à cata de um lugar para estacionar o veículo.
Na manhã de hoje, como iria ao ponto extremo do bairro,
peguei carona com a esposa que se deslocaria de carro para o seu trabalho – do outro
lado da cidade – e iniciei o périplo pelo bairro que tanto aprecio a pé, pois
posso perceber os gestos, os personagens, os acontecimentos, as vitrines etc.
Enfim, tudo aquilo que pode servir de matéria-prima para um escritor.
Depois de cumprir duas ou três das tarefas que havia
programado realizar antes de estar de volta e sentar-me frente ao computador
para as habituais orientações para os alunos da graduação em engenharia da
UFPE, avistei um casal de idosos que saíam de uma operadora de planos de saúde
existente nas imediações. A senhorinha, que aparentava uma idade de uns 75 anos
ou mais, ladeada pelo fiel esposo e sua bengala para apoio na deambulação –
ele, sem dúvida, já ultrapassara os 80 anos – enxugava lágrimas contidas...
Não me contive, me aproximei e – nessa minha imensa mania de
me preocupar um tanto com os outros – e perguntei se poderia ajuda-los em algo.
Com um jeitinho terno, meio sorridente ou, melhor, surpresa – pelo inesperado
contato, de um transeunte qualquer, creio eu –, meio entristecida, disse-me
que, infelizmente, não. Ela percebeu meu interesse desinteressado e acabou por
desabafar...
Depois de muitos e muitos anos pagando o mesmo plano de
saúde para si e seu esposo, recebera alguns dias passados a comunicação para o
reajuste do boleto mensal. Face ao desequilíbrio entre os sucessivos aumentos
do plano de saúde e de suas aposentadorias, terminaram por não mais conseguir
mantê-lo em dia. Por outro lado, em razão da elevada idade do casal, não
conseguiram nenhuma outra proposta compatível com o orçamento familiar...
Previsível, não mesmo?!
Convidei-os a virem comigo até uma padaria próxima onde lhes
paguei um café com leite para ele e um suco de frutas para ela. Embora não
tenha podido fazer muita coisa por eles, pelo menos, ao final de nosso breve
encontro, ela abriu um sorriso um tanto mais esperançoso.
E só agora é que me dei conta de que sequer perguntei-lhes
quais seus nomes. Digamos que são Maria e José, como tantos outros brasileiros
na mesma faixa etária. E que acabaram de receber um presente de ano novo,
nenhum pouco adequado ao que lhes resta de futuro, ao que lhes resta de vida.
Um país esgoto que me faz lembrar dos seguintes versos: “Acostuma-te à lama que te espera. O homem que nesta terra miserável
vive entre feras, sente inevitável a necessidade de também ser fera...”.
Ah, mas nem tudo esta perdido... Como sou otimista inato,
somente poderia concluir este texto com um fio de esperança.
Ao chegar ao lar, me deparo com a remarcação da faixa de
travessia para pedestres, quase defronte à secular igreja do colégio que ladeia
o prédio em que resido, do outro lado da rua. Legal a tentativa de (re)ordenar
o espaço urbano e as utilidades para o cidadão. Contudo, de um lado a faixa
termina entre um poste, com uma lixeira e uma frondosa árvore que toma mais da
metade da faixa e, do outro, com um profundo desnível entre a linha d’água e a
calçada, que não é adequadamente rebaixada para cadeirantes, idosos ou carinhos
de bebê, que regularmente acorrem ao templo religioso.
Entrei no site da Prefeitura da Cidade do Recife, acessei o
e-mail da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e lhes enviei fotos
e narrativa dos equívocos da execução da aludida faixa de pedestres. Em poucos
minutos, recebi resposta da assessoria de imprensa do referido órgão. Disseram-me
que as minhas colocações haviam sido encaminhadas ao setor técnico para a avaliação pertinente. Vejamos quanto tempo levarão para concretizar a
modificações necessárias (e de modo correto). Como disse, talvez ainda reste
uma esperança...
Ah, antes que me esqueça... Passei bons 10 dias sem receber
ou poder realizar ligações de meu telefone fixo. Ou seja, entre o período de
Natal e Ano Novo, no qual mal utilizamos o telefone. Verdade? Nesse período,
foram realizados nada menos do que 05 (cinco) protocolos de solicitação de
conserto da linha. E sempre havia a sugestiva sugestão de que fosse verificada
a condição da rede interna do prédio e do apartamento. Na ultima tentativa de
reaver a utilidade da linha, atendente de telemarketing, sempre em voz
monocórdica, repetia: “Entendo, senhor... mas ainda está no prazo para a
execução do serviço solicitado e que...”. Não sabia eu (deveria saber né!) que
a cada vez que você (re)solicita a execução de um serviço não prestado há dias,
um novo prazo se abre em favor do devedor. Ou seja, em prejuízo daquele que
paga as exorbitantes contas de telefonia em dia e sequer pode dispor dos
serviços. Encerrei a ligação (feita desde o meu celular) com a atendente
dizendo que sairia de imediato para a sede da regional da Anatel. Por
coincidência, em cerca de 30 minutos, o telefone já esta funcionando e eu
receberia uma ligação de um técnico da operadora. “Senhor, identificamos o
problema... era um cabo danificado, fizemos a migração de seu “par” para este
novo tronco. Não haverá mais problemas com a sua linha. Grato pela atenção”.
Daí, não tardou para que eu recebesse uma ligação eletrônica da empresa para
avaliar o funcionamento de minha linha: “Tecle 1 se a linha está funcionando
normalmente, tecle 2 se ainda há problemas na linha”. Como o telefone
aparentava estar funcionando, teclei 1. A ligação foi imediatamente encerrada e
sequer me disseram um “Oi”. Será que realmente poderemos ter esperanças?